“BE” é como um abraço apertado do BTS em seus fãs

O disco, trabalho mais recente do grupo e descrito como o mais BTS-esco de todos os já lançados, é uma longa e honesta carta de amor ao ARMY –que sempre esteve presente.

Duds Saldanha
6 min readNov 20, 2020

Ao longo de 2020, o grupo coreano BTS, que assim como todos nós não podia sair, convidou as pessoas a entrarem em sua casa.

Da esquerda pra direita: Jin, V, Jungkook, SUGA, RM, Jimin e J-Hope, em sua apresentação de "Home" na BTS Week. (Reprodução: Big Hit Labels, via Twitter)

Desde os cenários confortáveis da BANG BANG CON The Live em julho, passando pelo discurso para a Organização das Nações Unidas também gravado num estúdio em casa, o pelo momento de mini-férias que eles tiveram em In The Soop (ou “o reality show que mais parece um abraço e uma sessão de terapia) lançado em setembro, a performance de “Home” para a BTS Week no Tonight Show com Jimmy Fallon, até chegarmos nas fotos-conceito e nas inúmeras lives para compartilhar o processo de produção do seu mais recente trabalho, o EP “BE”.

Primeira foto-conceito. (Reprodução: Big Hit Labels, via Twitter)

“Nós precisávamos [compartilhar o processo], porque não era possível nos encontrar com nossos fãs pessoalmente. Havia um medo de que a gente ficasse desconectado demais”, explicou RM, o líder do grupo, na coletiva de imprensa realizada horas antes do lançamento oficial do álbum.

Claro que não havia a menor chance de que o ARMY se sentisse desconectado de RM, Jin, SUGA, J-Hope, Jimin, V e Jungkook, mas que atire a primeira pedra quem não teve medo de se desconectar das pessoas mais queridas nesses oito meses de isolamento social que estamos vivendo.

E, assim como todos nós, os meninos sentiram uma necessidade de assegurar seus fãs e as pessoas que eles mais amam de que, mesmo nesse período de incertezas, ainda estamos todos juntos, e, mais do que isso, que tudo bem se sentir triste e frustrado com tudo que está acontecendo, mas que a vida continua, mensagem materializada em “Life Goes On”, single de comeback.

“Ela e 'Dynamite' [considerada o primeiro single do álbum] vêm das mesmas raízes”, disse RM, na coletiva. As duas músicas se propõem a transmitir a mesma mensagem de positividade e de “renascimento”, no sentido de que é preciso sacudir a poeira e continuar seguindo, e não à toa as músicas abrem e fecham o álbum. RM também explica a decisão por trás de colocar 'Dynamite' como a última música: “Nós discutimos muito se colocaríamos ou não, mas acabamos sentindo que ela é uma homenagem ao final de um dos nossos shows, com toda a positividade e fogos de artifício”.

O clipe de “Life Goes On” conta com o maknae (o mais novo) do grupo, Jungkook, como diretor, e ninguém melhor para mostrar o grupo da forma mais relaxada e autêntica possível que o olhar da pessoa que cresceu com eles. Na coletiva, ele falou mais sobre a ideia por trás: “mostrar o lado mais sensível e emotivo”, e também fazer com que a atmosfera gerasse identificação com os fãs que também estão presos nessa situação, em seus quartos.

Perdi a conta de quantas vezes eu mesma me deitei na cama olhando pro teto e pras paredes do meu quarto pensando no quão pequeno é o espaço e que ele acabou se tornando o único mundo que eu tive por muito tempo, e achar que eu sou a única nessa situação é bobo –”Fly To My Room”, a segunda música do disco, fala sobre a sensação doce e amarga de fazer com que seu quarto seja seu ambiente mais confortável, como isso pode ser difícil, e “como a ideia de viagem vai mudar completamente a partir de agora”, explicou Jimin, um dos intérpretes da música e Gerente de Produto do álbum, que é uma unit entre Jimin, V, SUGA e J-Hope.

Blue & Grey” é absolutamente sinestésica em seus aspectos mais importantes. V, um dos principais compositores da música, disse que ela é “sobre expressar suas maiores frustrações e tristezas através das cores”, e que “a música é melancólica, mas o violão faz com que ela seja mais leve de certa forma.”

Ainda sobre os desafios de fazer “BE”, V, que ocupou o cargo de Diretor Visual, falou muito sobre como o processo do disco foi importante não só musicalmente mas também para ele, que assumiu funções que não sabia que podia assumir e se sentiu muito satisfeito com o resultado. “Eu pedi muitas opiniões para os outros membros e também para o ARMY”, e isso ressoa muito com os próprios fãs.

Uma das coisas mais incríveis sobre acompanhar o ARMY em qualquer rede social é seguir de perto alguém que de repente descobre um novo talento através de um projeto pessoal feito em homenagem à banda. É inspirador ver que as pessoas sentem que estão no controle da própria história e das próprias habilidades, tudo isso por causa de uma fagulha de inspiração que pode ter vindo de uma música, de uma foto, ou do simples ato de que um dia alguém acordou e decidiu fazer algo que nunca fez antes.

Skit” é uma surpresa para os fãs que estão com os meninos há mais tempo, e para os mais novos que queriam sentir o gostinho e a felicidade de um skit. É uma faixa não-musical, um registro em áudio do dia em que os meninos foram #1 no Hot 100 da Billboard, e o quão felizes eles estavam. Depois de saber o “tema”, não sentir a emoção e a felicidade que eles sentiram é impossível. Não é preciso saber coreano pra passar por esse skit com um sorriso no rosto.

E ele também funciona como uma transição, uma “virada de chave”, para as próximas músicas do álbum. “Telepathy”, a primeira delas, é uma carta de amor aos fãs, a comemoração de um momento que ainda nem aconteceu, de um reencontro muito aguardado, e de uma conexão inquebrável. Musicalmente é extremamente dançante, ao contrário das músicas até então, que são mais pra sentar no chão do seu quarto e curtir.

Mas se você se levantou em “Telepathy” pra dançar segurando uma escova de cabelo improvisada a lá Lizzie McGuire, não precisa se sentar, porque “Dis-ease” é uma viagem pela cabeça de J-Hope como produtor e compositor, o que significa que você vai dançar, sim, mas uma mão na cintura e outra na consciência. Descrita como um “old-school hip-hop” por J-Hope, ela é, ainda segundo ele, “uma música sobre como todo mundo pode sofrer de um transtorno mental de um jeito ou de outro”, e como tirar essa ‘folga’ forçada e incerta no meio de uma pandemia pode desencadear uma série de questões sobre a sua profissão e seu lugar no mundo.

Quando a Big Hit disse que o BE seria o álbum mais BTS-esco de todos, não estava se referindo apenas ao fato de que o processo todo foi encabeçado pelos sete membros. “Dis-ease” é o perfeito exemplo de como o BTS se diferencia na cena musical, por evidenciar o que os meninos fazem de melhor, que é o jogo de palavras. Embora o título em coreano seja traduzido ao pé da letra como “disease”, doença, a grafia do título em inglês usa “dis” como prefixo para “ease”, que pode ser traduzido como conforto, sossego, ou seja, uma das traduções do título seria, literalmente “desconforto”.

Stay” é a segunda e última das units do álbum, sendo uma colaboração entre Jungkook, Jin e RM, e é mais uma carta de amor aos fãs que “sempre ficam”, em mensagem, muito parecida com “Telepathy”, mas musicalmente diferente. Na live feita para comemorar o lançamento, depois que o mundo já havia tido a oportunidade de ouví-lo, Jungkook confessou que “Stay” era pra ser originalmente a última faixa de seu trabalho solo ainda não lançado, e que a letra original era toda em inglês.

Dynamite” fecha o álbum de forma bastante positiva, e não poderia ser diferente, já que… a vida continua, e o sentimento que fica é de que a intenção reforçada pelos meninos na coletiva de imprensa de que cada parte desse álbum fosse extremamente relacionável é conquistada de forma magistral, e sem esforço nenhum.

O ARMY está acostumado a receber sempre o que o BTS pode oferecer de mais sincero e mais honesto, e é claro que um álbum onde eles tiveram poder sobre absolutamente todos os aspectos não seria diferente.

Até agora nós estávamos dando volta nos quartos um dos outros, olhando aqui e ali, absorvendo o que era visível aos olhos. Em “BE”, o grupo nos puxou para um abraço muito apertado que nos diz “sabemos como vocês se sentem e nos sentimos exatamente assim, como você.”

E como é bom ter o Bangtan. Como é bom não estar sozinho. Como é bom saber que a vida continua.

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Duds Saldanha

27 anos. Brasileira. Criadora de conteúdo, ilustradora e blogueira de comportamento e de esporte. http://linktr.ee/ddsaldanha