O que vem depois do “ame a si mesma primeiro” e coisas que ninguém diz

Duds Saldanha
4 min readJan 4, 2017

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“Se você não consegue amar a si mesmo, como diabos vai amar outra pessoa?” é uma frase de RuPaul que o mundo deveria viver intensamente todos os dias. Ótimo. Essa parte estamos conversados, estamos cansados de ler que o amor próprio tem que vir antes de tudo. Mas e depois? Ninguém fala do depois.

Ninguém diz pra você: você precisa amar a si mesmo mas nem sempre isso é tudo, porque essa frase não é bonita. Não é inspiradora. Não é board de Pinterest. E se tem uma coisa que sabemos, amigos, é que a vida não é baseada na frase bonita.

E eu tô aqui pra falar contigo honestamente sobre o depois.

O processo de se amar é difícil, e eu posso dizer isso em primeiríssima mão pois não tá escrito nas estrelas o tamanho do tempo que levou pra eu conseguir me olhar com uma pessoa no mínimo aceitável.

Sempre falamos que pra gostar de uma pessoa ela não precisa necessariamente ser atraente fisicamente e tem funcionado na história do mundo™, mas aplicar esse pensamento a si mesmo, apesar de não parecer, é a coisa mais difícil do mundo. A gente não tá acostumado a se olhar de dentro pra fora a ponto de perceber nossas qualidades mais incríveis e os nossos defeitos mais horríveis e ainda assim enxergar naquilo tudo uma pessoa maravilhosa como todo mundo é em sua própria maneira. Porque se amar não é apenas se olhar no espelho e estar contente com sua aparência –é sobretudo se sentir confortável dentro do corpo que você tá vendo no espelho.

Digamos então que você, como eu, passou por esse processo bem Real Madrid em 2016 com 100% de aproveitamento e agora se sente muitíssimo bem consigo mesma, obrigada. Geralmente, existem dois tipos de caminho a seguir:

1. Você se sente segura e confortável e não precisa de mais ninguém

Acontece. Toda essa historinha de “se amar pra depois amar outra pessoa” para no se amar mesmo, e você percebe que é uma pessoa linda, inteligente, independente e que não precisa de ninguém afinal de contas. É invejavelmente bem resolvida e segue sua vida. Normalmente é o lado bonito da frase que falei mais em cima. É o best case scenario, o case de sucesso da empresa Vida™, é o final feliz da Geração Y.

Não tem absolutamente nada errado nisso, inclusive vejo apenas vitórias. Mas aí tem o outro depois.

2. Você se sente segura e confortável e PRONTA PRA UM RELACIONAMENTO…

… que pode demorar pra vir.

E é ótimo que você tenha se aceitado como você é e se ache a bolacha mais gostosa do pacote, esse é um sentimento que dá um certo alívio até. Se você, como eu, sabe como é passar a vida inteira se odiando e mudando tudo aquilo que pode pra entrar num padrão que você nunca vai estar 100%, sabe também o quanto é incrível se libertar desse “hoje não, hoje não” e finalmente olhar no espelho, passar um batom e pensar “HOJE SIM.”

A sensação de estar pronta, de saber se elogiar e aceitar elogios é uma das melhores sensações, mas estar sozinha é uma bosta, e ninguém fala disso.

Nem sempre é suficiente para alguém estar bem consigo mesmo apenas. Se sentir suficiente, se sentir independente. Para a esmagadora maioria de nós, existe um depois de se amar, e quando esse depois demora pra vir, a insegurança resolve voltar e dar uma sentadinha no nosso ombro cada vez que a gente olha no espelho. E tudo bem assumir isso.

Criou-se um mito (que às vezes beira o inalcançável) de pessoa satisfeita consigo mesma –não me leve a mal, se aceitar é incrível e precisa ser incentivado–, mas ninguém fala sobre o depois. Sobre a sensação de solidão que faz com que a gente se sinta fraca, se sinta regredindo. A voz na cabeça que diz “mas você não se amava? Porque então tá aí sofrendo por causa de homem?”

É preciso aceitar que o amor próprio existe, e que a solidão também pode vir com ele talvez com a mesma intensidade, e não é errado se sentir absurdamente bem consigo mesma e ao mesmo tempo sentir falta de um mozão.

É normal ser empoderada e se sentir sozinha. É normal se amar e querer amar alguém de volta. E é mais normal ainda dar uns passos pra trás quando o depois não vem. Algumas pessoas descobrem, depois de se aceitar, que não precisam de mais ninguém, tudo bem se você fizer parte daquelas que precisa. Você não é menor por isso.

Se permita estar confortável no próprio corpo e pensar “antes só do que mal acompanhada, claro, mas eu quero um mozão!”

Vamos falar mais sobre solidão?

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Written by Duds Saldanha

27 anos. Brasileira. Criadora de conteúdo, ilustradora e blogueira de comportamento e de esporte. http://linktr.ee/ddsaldanha

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