“Abyss” e o burn out na pandemia

Duds Saldanha
3 min readDec 3, 2020

Se tem uma coisa com a qual os fãs do BTS podem contar, é com a honestidade do grupo. Desde compartilhar o quão frustrante foi a experiência do MAP OF THE SOUL ON:E por ser apenas online, até compartilhar seus sentimentos mais “sombrios” em músicas escritas sob o efeito de uma pandemia, sempre que lemos uma letra escrita pelos meninos sabemos tudo que eles querem dizer, porque está lá, pro mundo inteiro ler. E é real.

Com seus trabalhos solos não é diferente, claro, então quando Jin (Kim Seokjin) compartilhou, às vésperas do seu aniversário de 28 anos, uma música solo no Soundcloud oficial do grupo, a gente sabia o que esperar: honestidade. Porém, a música bateu diferente e me colocou pra pensar.

Como fã, eu fiquei muito feliz com “Abyss”. A melodia é perfeita, os vocais estão incríveis, enfim… é a qualidade que se espera de qualquer trabalho de qualquer membro do BTS. Como profissional que trabalha sendo criativa, tendo que segurar essa criatividade em meio a uma pandemia, eu precisei dar uns passos pra trás e respirar fundo.

Não é a primeira vez que eu me vejo “refletida” em uma das músicas do grupo, e provavelmente não vai ser a última, mas a mensagem que o Jin postou junto com a música fala comigo num lugar especial: o de alguém que já sofreu algumas vezes com burn out.

Para dizer a verdade, eu sofri um forte burn out recentemente, e eu acho que foi porque eu estava pensando muito sobre mim mesmo”, ele começa. E se tem uma coisa que é um abismo, é esse tipo de pensamento. A sensação de entrar em uma espiral que não tem fim e que só te puxa mais e mais pra baixo e que faz você se questionar sobre absolutamente tudo que você já produziu, está produzindo ou ainda vai produzir.

Por muitas vezes nessa pandemia eu passei por momentos onde eu duvidei de mim mesma, criativamente falando. Não foram raras as vezes onde eu questionei onde tinha ido parar a minha própria criatividade, ou a minha capacidade de me empolgar com as coisas que eu estava fazendo, ou se era certo eu trabalhar “no piloto automático” apenas por não ter mais o emocional pra entregar algo mega bem-produzido. E se as pessoas me achassem uma farsa por isso? E se as pessoas descobrirem que eu sou uma fraca?

Eu tenho sorte de ter uma grande rede de apoio emocional, de fazer terapia, de poder conversar com pessoas, e, por que não, um grande networking. Tudo isso me fez pensar inúmeras vezes se eu de fato merecia todo o privilégio do que acontecia comigo.

E eu encontro esse mesmo sentimento na mensagem do Jin sobre “Abyss”: “Muita gente me parabenizou pelo primeiro lugar na Billboard Hot 100, mas eu fiquei pensando se eu merecia mesmo… honestamente, há muitas outras pessoas que amam e são melhores em fazer música do que eu, então parece certo eu receber essa alegria e essas mensagens?

Imagine estar tão emocionalmente exausto a ponto de achar que você não merece mensagens positivas e de apoio pelo seu próprio trabalho? Acho que esse tem sido um dos sentimentos mais comuns de 2020, esse ano onde mais do que a saudade de um abraço ou de se reunir com os amigos, a dúvida é o grande sentimento que nos une. A incerteza.

Sobre o mundo, sobre nosso lugar dentro dele, sobre as pessoas com as quais nos relacionamos, sobre a nossa carreira… eu estou escrevendo sobre mim, sobre o ponto de vista de uma música de uma pessoa há muitos quilômetros, 12h e um outro idioma de distância, mas se você acha que eu poderia estar escrevendo sobre você, seja bem-vinde.

Aqui, estamos todos com dúvidas.

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Duds Saldanha

27 anos. Brasileira. Criadora de conteúdo, ilustradora e blogueira de comportamento e de esporte. http://linktr.ee/ddsaldanha